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quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

Ely Vieitez e o Ano NOvo





  • DIÁLOGOS IMPOSSÍVEIS
    (*) Ely Vieitez Lisboa

    O diálogo, filho da palavra, ambos armas poderosas, perigo real de dois gumes, seriam presentes de Natal muito adequados, se não fossem tão complexos.
    Em um consultório médico vi um pôster que jamais me saiu da memória. Uma floresta luxuriante, de cuja sombra emanavam uma frescura vívida e grande harmonia, entre as pedras e cascatas . Em inglês, os dizeres: Como queres que eu te escute, se não entendes o meu silêncio?
    A comunicação do Homem com a Natureza e com o próprio Homem sempre foi difícil. Nesse Natal, no mundo da ficção, onde tudo é possível, eis diálogos, ricos presentes.
    As florestas diriam aos homens: – Você, pretenso Senhor do Universo, por que se transformou em predador maior? Não vê que está cavando a sua própria sepultura?
    Ao que ele responde: _Sim, mas como sofrear o desejo de poder que me abrasa, a sede de conquista, a ambição que trago na essência? A culpa é minha ou do meu Criador? O Homem, no entanto, se esqueceu, com certeza, da verdade insofismável: a Natureza não se defende, ela se vinga.
    Ora, os homens das cavernas já eram amantes da guerra, com a sanha no próprio plasma. Machado de Assis, em dois de seus romances, “Memórias Póstumas de Brás Cubas” e “Quincas Borba”, denuncia os homens como seres inaptos para a paz. Exemplifica, ironicamente, com a filosofia do Humanitismo, criando uma parábola sobre duas tribos que viviam perto de um rio, onde havia uma plantação de batatas, suficiente para alimentar uma só tribo. Assim, a guerra, no caso, era sinônimo de vida: Ao vencedor, as batatas! A paz traria a morte.
    Como a História da humanidade pouco muda, poder-se-ia transpor a parábola para os dias atuais, quando alguns países vivem um verdadeiro holocausto, onde ninguém se entende e muitos morrem. Desejar um diálogo e consenso parece algo utópico. As guerras sempre foram uma parafernália de causas contraditórias e efeitos nefandos.
    Nesse Natal, perguntei a Deus, a mais solitária das criaturas, porque não tem com quem dialogar:
    Que é mais trágico / do que o desacerto do ritmo / entre a
    a alma e o corpo? / Que fazer do espírito, / que busca
    infinitos, / enquanto a carne palpita animal? / Que fazer
    dos nervos, / correntes-cadeias que aprisionam a carne /
    e a alma, que ri, superior, / em ironias metafísicas? / Que
    fazer de Deus, / que deu ao homem de barro / uma alma
    de estrelas? / Por que PARA SEMPRE é POR POUCO
    TEMPO / e NUNCA MAIS quer dizer AMANHÃ?
    É um mistério. Os homens não se entendem. A impressão que se tem é que não nasceram para a paz, embora digam que odeiam a guerra. Este perigoso modo de ser acarreta consequências funestas, faz dele alguém sem futuro. Filmes clássicos falam de uma época longínqua, apocalíptica, árida e mortal. Mas nada os muda, nada os convence de outra maneira de serem mais benéficos e pacíficos.
    Realmente o homem sempre quis ser o Senhor do Universo, mas se transforma em seu carrasco. Ludibriado com sua pretensa racionalidade, ele caminha para um abismo que ele mesmo tem cavado, desde tempos imemoriais.
    O que pedir nesse final de ano? Talvez falar com Deus para que consigamos decodificar este diálogo impossível, tornando-nos seres mais dignos da Criação.

Postado por Eliane Ratier às 21:26
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Um comentário:

  1. Adriano3 de janeiro de 2014 às 19:46

    Mais uma vez, Ely dá mostra de sua grande capacidade em um texto literário da melhor qualidade, curvo-me admirado.Abraços AdrianoPelá

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