E, com o talento que lhe é inerente, aborda outros temas relevantes. As menções aqui listadas não conseguem definir o talento da autora na sua totalidade. São apenas algumas estrelas num universo em permanente expansão.
ENTREVISTA
Na troca de cromossomos poéticos, prevaleceu a ascendência da sua mãe, a família Senna ou a do seu pai, a família Oliveira? Ou há contiguidade poética entre os Sennas e os Oliveiras?
Que eu saiba, além de mim, não há nenhum poeta em ambas as famílias, mas minha mãe era uma mulher com uma sensibilidade artística muito grande, gostava de poesia, tocava piano, acordeon. Já meu pai, há muito pouco tempo atrás, contou-me que quando era bem jovenzinho, andando a cavalo pela fazenda ao cair da noite, gostava de inventar canções e poemas para a lua, mas nunca os escreveu. Talvez a minha paixão pela lua venha dele.
De qualquer modo, escritora oficial até agora, só eu, assim como também fui a única dentista em toda a família até hoje. Entretanto, tenho uma sobrinha que já demonstra ter vocação e talento para escrever. Publicou um livro na escola e leva jeito. Vamos ver.
Em termos de estilo, qual a característica medular da sua poesia?
Acho tão difícil responder, pois nunca penso muito nisso. Olho a minha poesia com olhar de dentro e não de fora. Sempre prefiro que alguém mais qualificado faça a análise para mim. Sei que escrevo sobre as coisas que sinto, sobre o cotidiano, as questões existenciais, as dúvidas, as perdas, as coisas da alma humana, sempre inquieta. Se eu começo a analisar muito, perco a espontaneidade, por isso, deixo fluir.
Mas percebo que sou muito sintética, gosto de textos enxutos, e também me preocupo muito com a qualidade do texto. Vou lapidando o poema até achar que está satisfatório.
“Grande Leminsk!”, você exclamou ao ler uma referência ao poeta em um post no Facebook. Num outro contexto, é clara a sua admiração literária por Mia Couto, escritor moçambicano, que conheceu pessoalmente. Por gentileza, pormenorize essas duas preferências.
Leminski tinha uma irreverência e uma inteligência típicas dos gênios, das pessoas que estão além do seu tempo. Ele tinha o poder de sintetizar em poucos versos muita verdade, e eu gosto de poemas assim: curtos e intensos - você sabe. Também acho que seus poemas serão sempre atuais, tanto é que sua obra poética foi relançada há pouco tempo, e está atingindo e agradando as novas gerações.
Mia Couto é um daqueles escritores cujo livro eu começo a ler e não consigo mais parar. Ele sabe contar histórias como poucos; fico inebriada com seu jeito de escrever. Sua prosa é muito poética, me inspira muito, e tem certo realismo fantástico que me agrada. Sua poesia também é intensa e enxuta, nada sobra ali.
Mia Couto expõe na oralidade da obra dele um quê de Guimarães Rosa. Apesar disso, ao contrário do que possa parecer, tenho a impressão de que é um pouco tímido. As inflexões de voz dele são calmas. O que notou pessoalmente?
Sim é pouco tímido, mas também tem bom humor. Estive duas vezes com ele e tive as melhores impressões. Pude perceber que é um ser humano humilde, ponderado, educado, justo e preocupado com os problemas do seu país. Fiquei fã dos dois, do escritor e da pessoa.
Existe algum poema quase recluso que você inclui, mas na hora H não vai para o livro?
Pode acontecer. Eu mexo no texto até o último instante antes de enviar para a edição.
O escritor James Joyce escrevia para um senhor chamado James Joyce, que estava do outro lado da mesa. Mara Senna escreve para Mara Senna?
Minha primeira leitora sou eu, com certeza. E também sou minha primeira crítica. Se eu não gostar, não publico. Tem que me agradar primeiro.
Existe uma tradição de capas com apenas o título e o nome do autor sobre um fundo colorido. Outra, com imagens e letras. Nesse aspecto, de que forma interage com os seus capistas? Ocorrem diferenças conceituais entre vocês?
Ainda não passei por isso. Até hoje pude escolher minhas capas, mas acho muito importante o autor gostar e se identificar com a capa do seu livro. Eu, pessoalmente, gosto de imagens na capa.
Excluindo a licença poética, constatamos divergências entre linguistas e gramáticos no que diz respeito aos outros gêneros textuais; os primeiros, são flexíveis; os segundos, censores. O poeta Ferreira Gullar, por exemplo, opta pelos gramáticos. De que forma você define o assunto?
Eu não tenho um conhecimento profundo do assunto, mas acredito que nenhum radicalismo é bom, e que às vezes existem discussões literárias totalmente desnecessárias sobre coisas desimportantes do ponto de vista da qualidade do texto e do resultado final. Mas essas divergências sempre existirão, e não teria graça se todos pensassem de forma igual. Discutir faz pensar.
Qual a sua opinião a respeito do Acordo Ortográfico em vigor? Por outro lado, o professor Ernani Pimentel elaborou uma proposta que será apresentada no Simpósio Internacional Linguístico-Ortográfico no mês de setembro 2014, em Brasília. A palavra homem passaria a ser grafada omem; hoje, oje etc. Concorda?
Não concordo, acho que estão empobrecendo a nossa língua, que é tão linda. Não gosto da estética desse novo acordo. Acho que o primeiro acordo não serviu para unificar a Língua Portuguesa coisa nenhuma. É até engraçado, mas até hoje sinto falta do acento na palavra voo. Ficou sem graça.
Os seus objetivos no campo do Teatro são como agente do fato (atriz) ou pretende exercer a dramaturgia? a exemplo de Tennessee Williams que foi o grande poeta do teatro americano. Seria por aí?
Não, não tenho grandes pretensões. Nunca escrevi texto para teatro.
Se isso vier a acontecer será algo muito novo para mim. Quero fazer um curso para ser atriz, mas apenas para realizar uma vontade, para somar mais uma forma de expressão artística, fazer atuações pequenas, nada grandioso.
Qual peça de teatro que mais a impressionou? Mas para cima, evidente.
Os textos clássicos de Shakespeare, os de Moliére e os de Nelson Rodrigues sempre tiveram e têm grande impacto sobre mim, mas vou citar uma peça inesquecível: Dona Doida com a grande Fernanda Montenegro, adaptada sobre texto de Adélia Prado. Um memorável encontro do talento de duas grandes mulheres.
Eu diria que, nesse caso, conseguiram unir ‘a fome com a vontade de comer.’ Queria muito que ela encenasse essa peça de novo.
É inevitável, um dia será a presidente da Academia de Letras e Artes de Ribeirão Preto. Quais os projetos que viabilizará?
Em geral, não tenho pretensões a cargos, muito menos de comando. Não creio que eu tenha perfil para exercer a presidência da entidade. Deixo isso para pessoas com esse dom. Sou mais dos bastidores, e com certeza, meus projetos sempre incluem a divulgação e valorização da poesia.
Entre os famosos (as), seja na rainha das mídias, a TV; seja na mídia impressa ou digital, qual a gengiva mais bonita do Brasil? Enfim, é pós-graduada em Periodontia pela USP.
As atrizes Taís Araújo, Paola Oliveira, Alinne Moraes, Sheron Menezes e Helena Ranaldi têm sorrisos bem harmônicos com gengivas saudáveis e dentes bonitos A duquesa de Cambridge, Kate Middleton também pode entrar nessa lista.
Entre os homens posso citar Reynaldo Gianecchini, Luigi Barichelli. Márcio Garcia. Na verdade, hoje os famosos se preocupam bem mais com a estética bucal do que antigamente, e isso inclui apresentar gengivas saudáveis.
Você é autora de dois belíssimos livros de poemas: o primeiro, Luas Novas e Antigas; o segundo, Ensaios da Tarde. O seu próximo livro sairá em breve ou o leitor terá de suspirar mais algum tempo?
Grata pelo elogio. Estou quase terminando o terceiro livro, mas está difícil, pois o meu grau de exigência com meu texto aumentou muito; dizem que é assim mesmo . Espero que consiga terminá-lo nos próximos meses, mas até passar pelo processo de edição, creio que deve sair só no primeiro semestre de 2015.
} Obrigado pela entrevista. {