quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

Ely Vieitez Lisboa e suas palavras sobre o Natal

PALAVRAS AO DEUS MENINO
(*)Ely Vieitez Lisboa

Ah, Jesus Cristinho, dia 25 é teu aniversário. Vê como as ruas estão aparentemente alegres, muito coloridas. Nas casas do alto da cidade há arranjos de luzes nos jardins suntuosos. Dentro das mansões, grande é o movimento, compras foram feitas, sofisticados menus são preparados. Em nome da união das famílias comer-se-á, beber-se-á em demasia, brinquedos caríssimos serão dados a crianças fortes, bem fornidas, enfastiadas de tantas guloseimas. Orações automáticas serão feitas às pressas, se feitas, porque o comer e o beber atiçam a vontade de todos. É uma festa gastronômica, de glutões, há exageros e desperdícios. Alimenta-se o corpo e deixa-se morrer à míngua o espírito.
Ah, meu Cristinho, como o homem distorce os teus desejos. Nasceste pobre, de família humilde, cobriste o teu corpo com apenas o necessário, calçaste teus pés com sandálias. Quando querias reunir teus Apóstolos, teus amigos, tu o fazias com simplicidade, sem alarde nem abastança. Deste um dia uma grande festa, a mais bela, onde multiplicaste pães e peixes para a multidão faminta, mas foi em campo aberto, junto ao povo, servindo o alimento essencial. Fora isto, banqueteavas os grandes grupos, os aglomerados, com sabedoria, com parábolas, servindo a Palavra como alimento maior. 
Dizem que não sorrias nunca, estavas sempre atento e lúcido, porque sabias (e como sabias!), que a vida é luta, é tristeza, é trabalho. Eras doce e manso, compreensivo e antipreconceituoso, aceitavas os pecadores, dando-lhes o perdão, entendendo suas faltas. E que fazem os homens, Cristozinho bom e amável, depois de tantas lições recebidas? São irascíveis, guerreiam, odeiam, julgam, condenam, discriminam, separam. Há vencedores e vencidos, opressores e oprimidos, ricos e pobres.
Ah, meu querido Menino, por que te digo tudo isto, no teu aniversário, como se tu já não soubesses? Eu também erro tanto, troco meus passos, cometo pecados e deveria hoje falar só de coisas boas. Rezar para ti, oferecer-te, não ouro, incenso ou mirra, mas flores, pássaros, borboletas e crianças. Queria te dar uma boa nova, dizendo-te: Vê, os homens criaram juízo, ouviram seus corações, refizeram seus caminhos, aprenderam a amar. Já não há mais guerra, nem ódio, nem fome, nem violência. Todas as crianças são amadas, bem alimentadas e tratam-se os animais com respeito e carinho. Já não se violenta mais a Natureza e o homem cuida do seu espírito e não só do corpo, amealha riquezas de bondade, de ternura, de altruísmo, erradicou do coração as ervas daninhas da hipocrisia, da brutalidade, da ambição, do orgulho e da injustiça. Coro de vergonha, porque é teu aniversário e nada do que queres posso te dar. Mesmo assim ouso ainda fazer-te um pedido: não fiques zangado, não te entristeças, não penses em castigar-nos. Perdoa-nos mais uma vez. 
E um dia teremos, finalmente, em outro aniversário teu, um verdadeiro Natal.

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