domingo, 19 de abril de 2015

Áurea Laguna fala sobre Monteiro Lobato


                                          


Em 18 de abril de 1882, nascia Monteiro Lobato, o fundador da Literatura para Crianças e criador do Sítio do Picapau Amarelo.

      O Sítio do Picapau Amarelo é um lugar peculiar, compreendido como tal, por crianças de várias épocas, que ainda se deliciam com as efabulações lobatianas. Nesse território, em que se transcorre a maior parte das peripécias das personagens, as vivências se desenvolvem por meio da diversão, pois a inserção do aspecto lúdico é uma das premissas fundamentais de todo o trabalho literário do escritor.
      À primeira vista, o Sítio se parece com qualquer outro: está instalado na zona rural, dentro de alguns alqueires de terra, onde há uma graciosa casinha branca, cercada pelo pomar, com seu riacho e animais. À sua volta, encontram-se fazendolas e uma pequena venda de provisões e utilidades domésticas, dessas que oferecem todo tipo de produto de que necessitam os sitiantes.
     As figuras singulares, de existência ilusória que habitam esse lugar, não estão circunscritas a essa área física, pois transformado em múltiplos cenários, o Sítio permite a expansão para viagens no tempo e no espaço, propiciando o contato de seus moradores com seres dos contos de fadas, das fábulas, das mitologias e até do cinema mundial.
      Pedrinho e Narizinho contam com a presença marcante da avó, Dona Benta, pessoa confiante que lhes favorece a realização de insólitas aventuras tais como: passear na Grécia ou na Lua; montar um curso de matemática no pomar ou deslocar-se para o País da Gramática.
      A própria dinâmica e o funcionamento das relações dentro desse ambiente utópico propiciam maior liberdade de expressão às personagens. Se assim não fosse, os meninos e os bonecos Emília e o Visconde não poderiam usufruir de experiências em que são livres para confrontar seus sentimentos e pensamentos, compartilhando-os com outros seres com quais se deparam em suas jornadas.
      Se considerarmos o Sítio como a sede do ‘Saber”, onde se discutem distintos problemas, utilizando-se o plesbicito como forma democrática para resolução de impasses, onde todos juntos enfrentam contratempos e a própria sobrevivência depende da criatividade e da adaptação a novas realidades, é preciso reconhecer que os picapauzinhos são realmente dotados de atributos não encontrados em personagens de outros textos para crianças.
      Lobato construiu suas propostas literárias ancorado no Sítio do Picapau Amarelo, identificado por alguns estudiosos como uma escola paralela, já que o autor não concordava com o sistema do ensino tradicional das primeiras décadas do século XX. Para outros analistas, o Sítio é uma metáfora do Brasil, que de país agrário passou a ser autosustentável depois da descoberta do petróleo em seu quintal.
     Independente das inúmeras significações atribuídas ao Sítio, o fato é que esse lugar permanece como um dos mais ambicionados para visitação, por milhares de leitores brasileiros e estrangeiros, que mantêm contato com as obras de Lobato.
     Graças à sua engenhosidade, os acontecimentos que se desenrolam nesse espaço ficcional são únicos, provocando no público leitor a vontade de participar, como coadjuvante, das inúmeras encenações idealizadas pelo escritor.    
        
Áurea Laguna
Especialista em Monteiro Lobato

Membro da UBE – União Brasileira de Escritores

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