A
Mulher...
Deus
descansou no seu sétimo dia de criação. Apesar de reservar esse dia para o seu
descanso, quis aproveitá-lo, para admirar tudo o que havia criado, com calma.
Saiu cedo para ver o nascer do sol: “que coisa maravilhosa estava vendo!”. Sentou-se debaixo de uma árvore, sobre uma
pedra à beira de um regato, para observar a água correr mansa e preguiçosa
sobre a rocha formando pequenas ondulações, tais quais cabelos soltos de uma
formosa sereia mágica. A brisa da manhã vinha chegando calma e sorrateira para acariciar-lhe
os cabelos e beijar as flores ribeirinhas. A mata, ao longe,
começava a acordar com o gorjeio suave dos pássaros madrugadores e os uivos de
alguns animais selvagens. Saindo da mata, uma loba procurava defender o seu
filhote de um leão faminto, com o risco da própria vida. Mais perto, Dele uma
ovelha recém-parida lambia, com muita ternura, o borrego que acabara de nascer
e, tentava manter-se de pé com as quatro patas que, para ele, pareciam estar em
excesso. Deus estava, tão distraído, olhando
a sua criação, que se assustou quando
o anjo Gabriel sentou-se ao Seu lado, para Lhe fazer companhia:
- Bela criação, Senhor... Que mundo
maravilhoso o Senhor criou...!
- Fiz o melhor que pude, disse-lhe o
Senhor.
- Maravilhoso, mas incompleto, falta
alguma coisa, continuou o anjo.
- Nada falta, disse Deus... Olhe esse
nascer do sol, maravilhoso, a água límpida desse riacho, a várzea coberta de
flores, sinta o perfume delas... Olhe a vida acordando na mata. Olhe com que
coragem aquela loba defende o seu filhote.
Vê ali a vida aparecendo no campo, através daquela ovelha com o seu
lindo borrego. Com que ternura ela cuida do seu recém-nascido! Você ainda me
diz que está faltando alguma coisa...!?
- Acho que sim, disse o anjo.
- Não tenho mais nada para criar, todo o
material que tinha em minha oficina divina foi gasto, não restou nada...
- O senhor não precisa de material
para criar alguma coisa, basta usar a imaginação...
Deus entendeu o que o anjo queria
dizer. Pensou por alguns instantes. Pegou a beleza do nascer do sol, a calma do
riacho, com os cabelos da sereia mágica, a beleza e o perfume das flores da várzea,
a carícia da brisa que chegava, o cantar sublime dos pássaros da mata, a
coragem e a bravura da loba, que defendia o filhote, a ternura e a dedicação da
ovelha, juntou tudo e fez... A mulher...
Nelson
Jacintho
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