Em comemoração à data do nascimento de Monteiro Lobato, Áurea Laguna nos presenteia com seu texto.
MONTEIRO LOBATO E O JORNALISMO
Monteiro Lobato foi promotor, fazendeiro, caricaturista, jornalista, escritor, editor, tradutor, empresário e, dentre os múltiplos papéis que assumiu na sociedade brasileira, até a metade do século XX, colaborou com inúmeros jornais, com originalidade.
Cursando a Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, sem nenhum interesse pelos estudos, Lobato lia Spencer, Darwin, Le Bon e comentava que aprendera com o filósofo Nietzsche a defender somente aquilo em que acreditava.
Citava que os jovens estudantes não se guiavam mais por ideais, como o fizera a geração de 1870, que lutara pela abolição da escravatura e pela proclamação da República. Na realidade, no início do século XX, a atividade cultural veiculada pelos jornais refletia uma mentalidade importada da Europa, consagrada pela Regeneração, que propunha a imagem de um país civilizado e idealizado.
Promotor em Areias, Lobato descreveu a decadência das cidades mortas do Vale do Paraíba, e seus temas diferiam muito dos produzidos pelos jornalistas voltados para a sociedade mundana, a qual insistia em copiar hábitos e idéias da Belle Époque parisiense.
Seus artigos: Velha Praga e Urupês apresentando a figura do Jeca-Tatu, que simbolizava o nosso atraso a ser vencido, causaram grande impacto nos leitores, pois o escritor contrariou os cânones da literatura fixados por José de Alencar, que mostrava o caboclo europeizado.
Contrário ao nacionalismo ufanista, mas sempre nacionalista, Lobato utilizou o jornal como fonte de divulgação dos mitos do imaginário brasileiro, em 1918, com uma pesquisa sobre o Saci Pererê, criando novas polêmicas entre aqueles que desdenhavam o que fosse nosso.
Nesse mesmo ano, após viajar pelas companhias de trem, escreveu sobre os estragos da geada que destruiu milhares de cafezais do estado paulista. Assim como Euclides da Cunha fora para a Bahia, com o intuito de descobrir se Canudos era realmente um foco de resistência monárquica, Lobato denunciava o que via, após visitar os locais onde ocorriam os fatos.
Esse era o jornalismo de um homem que dizia que a musa que o inspirava era a cólera, propondo a adoção de medidas saneadoras para os problemas brasileiros, ao criticar a inoperância dos governos, o uso das queimadas na agricultura, a monocultura do café e outros assuntos.
Na década de 1930, lutou a favor da implantação das empresas de ferro e petróleo, esbarrando sempre na burocracia de um governo interessado em agradar as multinacionais estrangeiras.
Ao apresentar seus temas, debatendo-se pela construção da nossa nacionalidade, o escritor foi preso e seus livros escritos para as crianças, queimados em praças públicas, considerados perniciosos para a formação dos futuros cidadãos brasileiros.
Privado de manifestar-se publicamente, Lobato descobriu, tardiamente, que a elite que dominava o país não tinha interesse em olhar para o Brasil que ele teimava em mostrar, preferindo manter o status quo.
Áurea Laguna
Especialista em Monteiro Lobato
E-mail: aurealaguna@gmail.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário