quarta-feira, 29 de julho de 2015

Leda Pereira convida para aniversário da UEI




Leda Pereira, presidente da UEI, União dos Escritores Independentes, convida para Sarau comemorativo do aniversário de 15 anos da UEI, com muitas atrações.
Desde já cumprimentamos a presidente por esta data festiva e desejamos vida longa à UEI.

Dia 06 de agosto

19h

Centro Cultural Palace- Ribeirão Preto

terça-feira, 21 de julho de 2015

Dia do escritor


Dia 25 de julho é dia Nacional do Escritor.

A data foi fixada por intermédio da UBE, União Brasileira de Escritores, na iniciativa de seus presidentes João Peregrino Júnior e Jorge Amado, durante o Primeiro Festival do Escritor Brasileiro, realizado na década de 60.

Para comemorar a data, e abraçá-los no carinho de irmãos,  destaco um trecho, que bem nos retrata, de um texto de Rodolfo Konder, que integra a Antologia de Crônicas da UBE, organizada por Marcelo Nocelli e lançada em 2014, durante a Bienal do Livro de SP.

Parabéns!!

Eliane Ratier- coordenadora do Núcleo de Ribeirão Preto da UBE.

"Os escritores geralmente não sabem administrar bens nem lidar com dinheiro, não entendem a política cambial nem de juros acumulados. Às vezes, sofrem de insônia, pressão alta e enxaqueca. Vivem acossados pela insegurança- será que meu livro vai fazer sucesso? Ficará encalhado? Você gostou do texto? Temem sempre os críticos, a rejeição dos leitores, e em certos países sombrios, a espada cega e implacável da censura. Mas essas criaturas de aparência frágil tornam a vida muito mais intensa, fazem das palavras um instrumento de magia, distribuem sonhos e emoções."



A PALAVRA E O SONHO - Rodolfo Konder

                  As palavras escritas frequentemente escoiceiam as verdades oficiais, como cavalos alados.                         
Mordem os torturadores, atacam os corruptos e os burocratas, conduzidas pela ética de quem as organiza.
 Além disso, nos fazem sonhar; abrem portas, janelas, cofres alçapões e caixas de Pandora; permitem que as flores nasçam em pleno asfalto; transformam o naufrágio da velhice num tempo de ventura, quando restam apenas “o homem e a alma”. As palavras escritas nos levam à Dinamarca ou nos transportam sobre as águas geladas do Báltico; percorrem conosco a veredas do Central Park, cobertas pelas folhas de um outono tardio; hospedam-nos num  maravilhoso castelo do século 14, em West Sussex, junto à um cemitério; revelam nos os mistérios dos maias e dos tehotihuacanos, dos toltecas e dos babilônios, dos minoicos e dos astecas; descem suavemene como a neve sobre os vivos  e os mortos; desvendam os segredos do passado- “ este quimérico museu de formas inconstantes”- e antecipam as vertigens do futuro; iluminam Paris e Jerusalém; despertam paixões, ressuscitam os mortos e desafiam os poderosos. Elas são mágicas e possuem poderes ilimitados, orientadas pela estética de quem as organiza.
                            Há pessoas que sonham - e vão buscar nas palavras o meio de manifestar seus sonhos. Num delicado trabalho de ourivesaria, elas selecionam frases, fazem o polimento das concordâncias, montam parágrafos, para provocar emoções e despertar a imaginação dos seus leitores. Esses misteriosos seres, solitários e eternamente insatisfeitos, são chamados escritores . Este ano, eles estarão presentes, pessoalmente ou por intermédio dos seus textos, em dois grandes encontros, no Brasil: a Bienal do Livro, no Rio de Janeiro, e o salão Internacional do Livro, em São Paulo.
                             Os escritores geralmente não sabem administrar bens nem lidar com dinheiro, não entendem a política cambial nem de juros acumulados. Às vezes, sofrem de insônia, pressão alta e enxaqueca. Vivem acossados pela insegurança- será que meu livro vai fazer sucesso? Ficará encalhado? Você gostou do texto? Temem sempre os críticos, a rejeição dos leitores, e em certos países sombrios, a espada cega e implacável da censura. Mas essas criaturas de aparência frágil tornam a vida muito mais intensa, fazem das palavras um instrumento de magia, distribuem sonhos e emoções.
                               Os regimes autoritários sempre odeiam quem escreve. Na América Latina , por exemplo, poetas, romancistas, críticos e jornalistas foram perseguidos, durante os chamados “anos de chumbo”. Nos países socialistas também, porque as “ditaduras do proletariado” temiam os escritores e o poder desarmado de suas palavras. Até hoje, isso acontece em Cuba, no Marrocos, na Líbia, no Iraque, no Afeganistão, na China e em outras nações que ainda não se encontraram com a democracia.
                                 Muitas vezes os escritores acabam na prisão. Mas a cadeia não é o único mal que se abate sobre eles. Há processos variados de intimidação, ameaças, isolamento, desemprego. Há também a censura, que os brasileiros já conheceram em diversos períodos da vida nacional. Durante a ditadura de Getúlio Vargas- o período conhecido como “Estado Novo”- tivemos um inesquecível exemplo da ação dos censores. Depois do golpe militar de 1964, também fomos obrigados a conviver com a censura, que se abateu sobre o País com uma praga, brandindo sua ignorância e sua truculência de forma implacável.
                                 Apesar de todos esses problemas, apesar de tantos obstáculos, os escritores escrevem. São teimosos, quase obstinados. Escrevem sempre, mesmo na penumbra. Até na escuridão, escrevem e nos iluminam. Com o seu ofício, eles nos ensinam, nos enternecem, nos emocionam, nos humanizam, nos aprimoram. E nos fazem sonhar.
                                    Num tempo já quase esquecido e tornado mítico, William Sheakespeare escreveu “ somos feitos da mesma matéria que são feitos os sonhos.” O sonho, portanto, é o nosso ponto de partida- e o nosso ponto de chegada. Talvez até nos acompanhe na viagem derradeira ao outro lado do tempo. “Morrer, dormir, quem sabe, sonhar...”, sugeriu o próprio Shakeaspeare, um escritor que, mesmo morto, ainda nos oferece sonhos fantásticos, com seus textos imortais.

RODOLFO KONDER, jornalista e escritor, foi secretário municipal de cultura de São Paulo